terça-feira, 21 de outubro de 2008

Notícias e desiguldades

Hoje vou utilizar do meu blog para falar algo que me incomoda muito, aliás, algo não, várias coisas...

Todos gaúchos devem ter visto ou ouvido falar do caso do jovem Igor, que com apenas 18 anos, foi vítima de uma bala perdida e infelizmente veio a falecer. Primeiro gostaria de falar que eu me sensibilizo, e muito, com a perda que a família e os amigos dele tiveram. Também já perdi jovens e queridos amigos. Mas o que eu quero falar aqui é da desigualdade social que também se reflete em diversos lugares, e como não poderia ser diferente, também está no jornalismo.

A matéria sobre a morte do Igor ocupa no jornal Zero Hora desta terça-feira (21), praticamente uma pagína inteira. Ela está bem aprofundada, tem falas de amigos, reconstitui como ocorreu o fato... Ai você que está lendo tudo isso que estou escrevendo deve ta se perguntando: "Tá Natália, e daí? o que tem isso?"

Negócio é o seguinte: Quando morre o filho da faxineira da periferia da capital ele não é notícia de jornal (irônico mas rimou!). É sempre assim, quando a "injustiça" acontece com alguem da classe média da cidade, ou num bairro da classe média (porque o incidente ocorreu na Av. Beira Rio, Zona Sul de Porto Alegre), a notícia se transforma de uma simples notinha de 5 linha no jornal para uma grande matéria. Aliás, matéria de jornal, tv e rádio!

Pode conferir! Na mesma página 36, que tem a notícia da morte dele, tem duas notinhas minúsculas de outros dois casos na Região Metropolitana. Outra coisa que me indigna mais ainda é o TÍTULO DA MATÉRIA. Veja só: "Comoção por morte de jovem". Na verdade as mortes das outras centenas de jovens que acontecem todo dia não comovem os leitores da Zero Hora, que por sua vez, não comovem o pauteiro e o editor-chefe!

Por falar em pauta nem vou entrar no caso da menina Eloá. A imprensa tem que cumprir o seu papel de dar a notícia, é nosso dever, nosso trabalho. Mas não é trabalho da imprensa querer ser a JUSTIÇA BRASILEIRA. É sempre assim, caso Isabel, caso Suzane Richthofen... E lá vem, principalmente a dona Globo, com seu jornalismo nada imparcial (se bem que pra mim imparcialidade no jornalismo é um mito!) querer julgar as coisas... Sem contar que a super repercurssão traz conseqüências, porque agora virou moda matar namorada(o) ou seqüestrar. Viram aquele outro caso que aconteceu em outra cidade de São Paulo?

Não tô querendo que as mortes que acontecem nos outros lugares da cidade ou do Brasil sejam matérias de uma página no jornal. Ou de mais de 2 minutos na TV. O que estou querendo falar aqui é que a desigualdade é algo gritante e está bem debaixo de nosso nariz!

Cresci vendo uma defensora pública trabalhar com todas as classes, cores, religiões. Ouvindo que todos tem o direito de serem defendidos. Cresci vendo essas merdas (me desculpem o termo, mas pra mim é merda mesmo!) de notícias martelando na minha cabeça. E acredito que no fundo o que me levou a escolher o jornalismo foi uma misturada disso tudo.

Não sei se será este o tipo de jornalismo que vou querer trabalhar quando me formar, mas tem uma frase do Dalai Lama que diz tudo: "Seja a mudança que você quer por mundo". Estas são algumas das razões de porque eu também milito e acredito numa sociedade diferente.

A campanha me mostrou isso. Conheci um Rubem Berta bem diferente daquele que o Diário Gaúcho me mostrava. Tá, eu sei que sou suspeita pra falar desse Bairro...hehehe... Lá tem violência sim, tem tráfico, tem assalto, mas tem uma gente trabalhadora, que é a cara, o jeito de todo Brasileiro! Que luta pra poder dar o melhor pros seus filhos, e que produz muita, muita cultura e esporte! E tenho certeza que deve ser assim nas várias periferias deste Brasil.

Mas infelizmente esse outro lado da história não vende jornal. E essas diversas coisas continuam me indignando. Encerro com outra frase, agora do MV Bill, que é mais ou menos assim: "Nunca vi periferia ser cartão postal".



2 comentários:

Soninha disse...

Vivemos numa sociedade de consumo e jornal, para vender, precisa espetacularizar casos como o da menina Eloá e/ou do menino Igor.

Ser militante do jornalismo ético e igualitário é uma ambição da maioria dos estudantes de comunicação social. O brabo é deparar-se com uma redação mais adiante e com um pauteiro e editor-chefe que joga no lixo uma pauta chamada sonho.

É difícil... mas que tristes seriam os caminhos se não fosse a presença distante das estrelas!

Parabéns jornalista-militante!

Gisele Borges disse...

Bom, texto amiga,mas é assim mesmo na lógica da pequena burguesia que"administra" nosso país. Vale mais um menino de classe média,considerado "bom" do que o da "perifa".Pois o segundo não tem quem o defenda.